Insertos de polietileno reticulado (XLPE – cross linked polyethylene) foram desenvolvidos com o objetivo de reduzir o desgaste em próteses articulares. A necessidade de cirurgias de revisão devido a complicações associadas ao desgaste do componente polimérico é um problema recorrente, principalmente em pacientes mais jovens e ativos. Por muito tempo, o padrão ouro do par tribologico destes produtos foi fabricado com polietileno convencional de grau médico (CPE – conventional polyethylene).
O XLPE é definido como o CPE que foi irradiado com, ao menos, 50 kGy de radiação gamma, beta ou de feixe de elétrons. Esse tratamento induz a reticulação entre moléculas de polietileno, melhorando a resistência ao desgaste. Mas, será que o polietileno reticulado resolveu o problema de desgaste? E, se resolveu, não introduziu novos riscos?
Taxas de cirurgias de revisão: XLPE vs CPE
Um estudo australiano, dos mais completos já realizados sobre o tema, indicou que próteses de quadril com insertos de polietileno reticulado (XLPE) reduzem substancialmente o risco de cirurgia de revisão após artroplastia total de quadril em comparação com próteses utilizando polietileno convencional (CPE).
O uso do XLPE resultou em uma redução significativa na taxa de revisão em 16 anos de acompanhamento de artroplastias totais de quadril para osteoartrite. As próteses com insertos convencionais levaram a taxas de revisão até três vezes maiores.
Estudos anteriores já haviam sugerido que próteses de quadril que utilizam insertos de XLPE eram menos propensas ao desgaste do que as com revestimento em CPE. Contudo, os dados provenientes deste estudo proporcionam um acompanhamento mais longo em relação ao risco de revisão, dados importantes para subsidiar o médico e o paciente na tomada de decisão.
O estudo incluiu mais de 240.000 pacientes entre 1999 e 2016. Próteses com um inserto de XLPE foram utilizados em aproximadamente 199.000 procedimentos, enquanto próteses com CPE foram usadas em 41.000 procedimentos.
Então, o XLPE é superior em todos os sentidos?
O processo de reticulação, embora melhore a resistência ao desgaste, prejudica certas propriedades mecânicas, deixando os implantes mais propensos a fraturas por fadiga. A irradiação de polietileno gera radicais livres que podem reagir com o oxigênio, potencialmente comprometendo o desempenho mecânico a longo prazo.
De fato, a quebra de dispositivos de XLPE tem sido descrita constantemente na literatura, em particular quando foram usados em projetos antigos de mecanismos de travamento. Esse modo de falha não acontecia com insertos de CPE. Assim, o mal posicionamento do componente acetabular, com a concentração de tensões e possibilidade de impactos associados, é um fator de maior risco para o XLPE.
Além disso, o benefício de usar XLPE se restringe à próteses de quadril, não sendo aplicável em sua “colega”: a prótese de joelho. A articulação do quadril é esférica e altamente conforme, e por isso o desgaste abrasivo e adesivo são os mecanismos característicos. Já a articulação do joelho, com seus movimentos deslizantes e rolantes, é menos conforme e cria tensões de contato e cisalhamento não presentes no quadril. Sendo assim, o XLPE não possui vantagens – pelo contrário, possui maior risco – quando comparado ao CPE em artroplastia do joelho.
MSC MED: Inteligência de mercado em dispositivos médicos
O estudo citado mostra que, na Austrália, uso de insertos de XLPE em artroplastias de quadril aumentou drasticamente nos últimos anos: de aproximadamente 9% dos implantes em 2000 para 97% em 2016. Quem, à época, investiu no desenvolvimento e Validação desta tecnologia saiu na frente e ganhou mercados.
Nos Estados Unidos, utilização de CPE veio decrescendo a cada ano até alcançar uma porcentagem negligenciável no Registro Americano, sendo que a média de idade dos pacientes que recebem esse tipo de prótese é de 79 anos.
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Referências
- ODT
- AJRR – American Joint Replacement Registry. Fourth AJRR Annual Report on Hip and Knee Arthroplasty Data. Rosemont, IL, EUA. 2017.
- Zagra, Luigi, and Enrico Gallazzi. “Bearing surfaces in primary total hip arthroplasty.” EFORT Open Reviews 3.5 (2018): 217-224
- Sakellariou, Vasileios I., et al. “Highly cross-linked polyethylene may not have an advantage in total knee arthroplasty.” HSS Journal® 9.3 (2013): 264-269.